quarta-feira, 22 de abril de 2009

Coração partido

Faz para a semana oito meses que soube que tinha cancro. Um mês depois estava a começar quimioterapia. Esta celeridade só foi possível porque um amigo, também médico, me colocou rapidamente nas mãos da médica que actualmente me acompanha nesta luta. Num hospital privado, com o diagnóstico feito e confirmado, decisões tomadas, cateter colocado, começou a saga dos tratamentos. Tudo pela mão da mesma pessoa, uma verdadeira bengala para a minha cegueira repentina.

Diz ela que, no início, eu não ouvia nada do que me dizia. Acho que tem razão. Com a cabeça tão cheia de novas informações e sensações, não ficava cá muita coisa, não. Consulta atrás de consulta, eu colocava as mesmas questões e ela, com paciência, repetia as mesmas respostas (começando por "Como eu já lhe disse antes..."). Foi-se firmando a confiança. A minha, de que teria que me entregar ao seu conhecimento e que nunca iria conseguir perceber tudo, e a dela, pelo menos, de que eu tinha começado a ouvi-la e parado de fazer as mesmas perguntas.

Na última consulta, quando verificou, por apalpação, que o tumor estava bastante mais pequeno, tenho a certeza de que a alegria que demonstrou foi sincera. O seu sorriso não deixou margem para dúvidas. E só um entusiasmo assim me faria acreditar que algo de bom podia mesmo estar a acontecer...
Ninguém que não tenha uma doença grave pode imaginar o quanto é importante uma relação especial com o seu médico. É sempre mais do que se pensa, acreditem. E eu tive essa sorte, a de encontrar alguém que me liga, que me atende o telefone, que me explica tudo (cem vezes), que me ajuda a viver com isto... Alguém que pergunta sempre como está a Joana...

Agora, ela vai-se embora da minha alçada. E eu sinto-me órfã. Órfã de médica, mais uma novidade nesta vida de aventura que agora levo. De repente, parece que tudo irá voltar ao início, que o caminho percorrido foi em vão e que, sem ela, não se chega a lugar nenhum.
Irei ter outro médico, isso é certo. Mas e se não é simpático para mim? E se não me dá o número de telemóvel, e se não me explica as coisas, e se, e se... De incertezas estou eu cheia, preciso é de segurança e, se felizmente até tenho várias, esta também é fundamental.

Não estava pronta para este desgosto, que me tem roubado umas boas hora de sono por noite. E como todos os corações partidos, o meu tem de recuperar e, o mais depressa possível, voltar a deixar-se levar por outro alguém que, espero, o mereça.

Beijos,
T.

7 comentários:

Anónimo disse...

Nunca será a mesma pessoa eu sei, mas vai ser bom, outro tipo de bom. Porque tu mereces tudo.

Aqui vais um presente para ti:

http://www.youtube.com/watch?v=R2i_-F8JftE

Beijos, beijos e mais beijos

Peter pan

Teresa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Teresa disse...

Obrigada pelo presente! É muito bom, gostei imenso!
Beijos grandes Peter Pan

ana disse...

Percebo o sentimento de abandono e o receio por que estás a passar, mas não te esqueças de que também não és a mesma de há 8 meses. A tua relação com a doença, e com a médica, fortaleceu as tuas defesas psicológicas. E estou certa de que o teu novo médico vai ser simpático e maravilhoso. Pelo menos espero-o de todo o coração. Se não for, faz-nos queixas e a gente trata-lhe da saúde. Abraços.

Anónimo disse...

Tu és tão querida... olha mana, eu tenho a certeza que vais gostar dele, e que ele embora diferente vai ter coisas boas para te dar, até porque se nada acontece por acaso... só pode vir daí coisa boa, a tua falta de sorte com médicos e diagnósticos terminou com certeza.
Não tenhas medo, continua a confiar em ti, na tua cura e na tua fé em construção.
Tens sempre a hipotese de procurar um médico que gostes, mas acho que não vai ser preciso...
Relaxa mana querida, já tens preocupações que cheguem, e assuntos muito sérios para tratar, não sofras por antecipação, vai correr tudo bem!
Ainda te vai sair um médico top, lindo, charmoso e simpático...
Beijos grandes mana Grande
Luv u!
m

Anónimo disse...

Não te preocupes já, espera para ver como é esse novo médico. Aconteceu o mesmo á minha mãe. Começou com um e depois ele foi embora, e ela disse "senão gostar deste, procuro outro". Teve muita sorte porque o que veio, é um doce, bem mais querido que o primeiro. Ainda hoje é ele que segue a minha mãe.
Pensa positivo, ele vai ser tão bom ou melhor que a tua querida médica.
Se por algum motivo precisares, eu dou-te o nome do da minha mãe.
Não desanimes porque mereces tudo de bom.

Beijos
São

Anónimo disse...

A vida está a dar-te um novo "ponto de luz" e este vais saber aproveitá-lo ainda melhor. Não és a mesma de há oito meses... agora sabes exactamente como proceder. E inseguranças todos temos, não é mesmo? :-)))
Bjs e bom fds.
Isabel