domingo, 4 de outubro de 2009

Necessidades

Uma das grandes revelações da minha nova vida, pós diagnóstico de cancro, é lidar com a necessidade. Não me lembro de ter cruzado com "ela" mais do que episodicamente. No aspecto financeiro nunca me faltou nada, nem enquanto fui dependente da família ou desde que comecei a ganhar o meu sustento. Um dia senti que queria ter filhos e, tomada em decisão, ela chegou, logo à primeira. Tive, e tenho, o conforto de que preciso, trabalho, família, bons amigos...
Mas agora preciso. Destas coisas que acabei de enumerar, e de várias outras. Algumas bem inesperadas.

- Paciência. Em exercício desde que a Joana nasceu. Agora, é o pão nosso de cada dia. Para tudo, das esperas aos sintomas, passando praticamente por tudo o resto. E preciso que tenham paciência comigo.

- Médicos. Cresci num Centro de Saúde (onde a minha mãe trabalhava), tenho amigos na medicina e na enfermagem, conhecimentos na área nunca me faltaram e, por isso, nunca tinha marcado consultas nem esperado por elas. Agora...

- Atenção. Sempre gostei, mas não sentia que precisava. Agora, pareço uma daquelas pessoas a quem não se pode perguntar, "Então, tudo bem?" Ou desato a debitar informação ou, se não, é porque estou demasiado cansada para isso. O que me leva à próxima...

- Energia. Sempre tive para dar e vender. Fui atleta sem parar durante mais de 20 anos e não me lembro de me queixar de cansaço. Trabalhava quantas horas fossem precisas, sempre com genica. É provavelmente do que mais necessito nos dias de hoje.

- Fé. Não tenho, nunca tive, nem me parece que consiga vir a ter, apesar de me fazer muita falta. Já fui a Fátima, ver as vistas, ando na mala com um terço e uma oração que a minha avó me deu, mas raramente penso em Deus... Acho que sou um caso perdido neste departamento.

- Privacidade. Esta fica para outro dia. É um problema cabeludo e que me afecta imenso.

Beijos.
T.

Vou a Madrid. Amanhã tenho consulta no MD Anderson. Vamos ver o que me dizem por lá.

5 comentários:

Unknown disse...

Afinal somos humanas, não??????
Como eu te compreendo Teresa...apesar de casada com um médico, se saímos deste "cantinho do Hospital de Faro" e vamos ouvir a opinião de outros médicos....a coisa complica-se e deixamos de ter a almofada de segurança do HDF. Quando recebemos este terrível diagnóstico, tudo isto faz falta. A energia, esgota-se com facilidade (hoje estou extenuada e só estive num jantar duma amiga a quem ajudei um bocadinho muito pequeno...). a paciência é posta à prova todos os dias, nas salas de espera, nas horas intermináveis dos tratamentos, na falta de pachorra para ser sempre simpática, cordial, atenta e comunicativa, na falta de paciência para aguentar os efeitos da quimio, das injecções, do cansaço.. de mais cansaço...enfim... das dores que não acabam, de não estarmos bem, nem sozinhas nem rodeada de amigos.
Mas...tudo isto faz agora parte das nossas vidas. Até...dar pela existência destas necessidades!
Mas, Madame...também não acredito em milagres...mas é como com as bruxinhas...."que eles acontecem, acontecem!! e isso..minha amiga: somos nós! Estamos cá, "boas como o milho" para dar e vender e Upa..Upa, em frente e para cima é o caminho!!
Estou convicta que vais ter boas notícias na segunda!
Ter Fé, é ter esperança!!
Faz o favor de aproveitar a viagem, relaxando..e se possível..com muito salero. Olé!
Beijinho grande

Madalena disse...

Olá Teresa! A energia que sempre tiveste está lá. Um tanto esmurrada, mas não acredito que não ressurja um destes dias. A Fé, pode parecer-te insuficiente, mas deixa Teresa, a que tens é muito alicerçada em Verdade e também está aí a trabalhar nas profundezas da tua força. Admiro-te! Vais ficar bem porque tu queres ficar bem. Um beijinho.

Anónimo disse...

Mana, as tuas necessidades são bastantes neste momento, mas na realidade necessárias a todos... e tu vais conseguir, eu sei...
Tu vais descobrir essas capacidades e muitas mais... dá-te o teu tempo, é tudo o que precisas agora, e acredita que o tens...
Tenho a certeza que vais vir muito mais animada de Madrid e que as notícias não vão ser as que tu pensas, acredita também que a tua fé existe, está só ainda escondida.
Amo-te muito e quero-te ainda mais, estou aqui sempre, mesmo que não seja precisa para nada...
Beijos muito grandes mana Grande
m

Unknown disse...

Teresa...esta Teresa quando escreveu o comentário, estava....enfim..não estava boa da cabecinha. Foi entre lidas agrícolas, depois duma festa...
Eu queria dizer "boas para o que der e vier" não: "como o milho". Umpfff só se o milho estiver bem gordinho...aí..sim, estaremos boas como esse milho!!!!!
Beijinhos (envergonhados)

Anónimo disse...

"Fé. Não tenho, nunca tive, nem me parece que consiga vir a ter... raramente penso em Deus."

oh dear... Voce pensa em si mesma? Pensa nos outros? Se pensa, entao pensa em Deus! *Namaste! maria