quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A vida como ela é



Eram sete e meia da manhã quando liguei para casa para acordar o Júnior e surpreendê-lo: "Estou no Parque das Nações a ver o sol nascer sobre a ponte Vasco da Gama". Um espectáculo soberbo, num espaço formidável, praticamente deserto àquela hora. Podia muito bem ser o cumprimento de um desejo a realizar em vida, mas não. Como sempre, e para muita pena de quem se queixa de que tenho falta de espiritualidade, comigo os motivos são sempre de ordem mais prática. Fui buscar a Guerra ao aeroporto. E porque ouvi falar de uma greve de transportes, saí de casa às 6.45 h, cheguei ao aeroporto às 7.10 h e o avião aterrava... às 8.45 h. Lembrei-me, então, de começar cedo a minha caminhada diária, e num sítio novo. Só não tirei foto porque, infelizmente, a máquina estava sem bateria. Foi pena, pois teriam direito a um belo momento Kodak.

De resto, o dia foi de trabalho, já fiz mais qualquer coisita hoje, mas saí cedo para ir buscar a Joana à escola, com a Ninia.

Antes do sol se pôr, ainda recebi um presente da mana João, uma LINDA mala Boss, que adorei, e o dia só não foi praticamente perfeito porque...

... apanhei a Joana bem disposta e resolvi ter "aquela conversa". Expliquei-lhe, com toda a normalidade do mundo, que a mãe teria de levar uma pica muito boa para tratar as costas, mas que poderia fazer cair o cabelo. Disse-lhe que estava a pensar cortá-lo curto e usar uma peruca para ficar mais bonita... As minhas expectativas eram as melhores, mas a pequenita, fazendo jus aos seus cinco anitos, assustou-se. Desatou a chorar como poucas vezes vi, desolada com a ideia de a mamã ficar sem cabelo. Não foi fácil conter as lágrimas, mas consegui, tentando tranquilizá-la, o que durante alguns minutos, não resultou de forma nenhuma. Penso que ela achou que a peruca era do género palhaço, porque disse que era "dura" e que não iria poder pentear-me (o que ela, e eu, adoramos, por sinal). Depois de lhe explicar que era parecida com o meu cabelo, da mesma cor e tamanho, que era macia e ela podia fazer totós e que iria comigo lá ver e acompanhar o meu corte de cabelo, disse que continuava triste, mas acalmou-se. E tão depressa que, passados 15 minutos, já estava a ver televisão. Meia-hora depois brincava animadamente com a sua bonecada. E o assunto não voltou à baila esta noite. Foi intenso, mas rápido, características que, aliás, compartilhamos.

Assegurei-lhe que eu própria não estava triste (mentira!, detesto essa ideia), perguntei-lhe se achava que devíamos contar às outras pessoas, ao que ela respondeu que só às cá de casa. Quando o pai chegou (ainda na fase dos 15 minutos seguintes) ela contou-lhe, a chorar, mas já sem perder a sequência de acontecimentos do VIPO, o cão voador, no canal Panda.

E assim me vou deitar, um tanto desgastada. Como tenho dito em conversas, o que mais me angustia em tudo isto é o efeito que esta situação pode ter sobre a Joana. Ela é muito pequenina, tem é de brincar e aprender as suas letras e números (está entusiasmadíssima) e não de estar preocupada com a mãe. Mas, enfim, não é a única, eu não sou a única, e também não haveremos de ser as únicas a ter de aprender a lidar com a vida tal como ela é.

Beijinhos,
T.

10 comentários:

Anónimo disse...

Então afinal tenho que marcar mesa para mais uma...;-)
Quanto à carteira ficas a asaber que apenas o fiz para ter direito a ser falada neste espaço...
beijos boneca, luv u
m

Filipa disse...

As crianças são mais fortes do que pensamos e a sua inocência acaba por ter uma força imensa. Ela é muito especial e creio que tu, vocês, têm a maior das capacidades de minorar o choque, de acompanhá-la pedagogicamente no processo. O facto de a quereres proteger é das tuas maiores forças! Um excelente dia para ti!

Anónimo disse...

A joana é uma menina forte como tu
ela é a tua grande força,voçês vão saber ultrapassar esta etapa da tua vida,nunca nos podemos esqueçer que mesmo as nuvens mais negras têm sempre um lado cheio de SOL virado para o Céu.
Tu vais conseguir pôr O Sol a brilhar de novo na tua vida. Amo-te muito um bom dia querida beijos.
nina

Anónimo disse...

Teresa, tens de ler a a entrevista de abertura da Veja desta semana. Uma jornalista muito conhecida no Brasil que teve cancro na mama e que conta a sua experiência. Muito interessante. Um grande beijinho.
Sónia

Anónimo disse...

Obrigada pela hospitalidade no teu belo duplex.
Um dia manda-me a conta.

Anónimo disse...

Na vida tenho tido a sorte de me ter cruzado com seres iluminados. E quando digo iluminados quero dizer exactamente isso. Seres a quem deus, ou a energia que nos criou, concedeu um sistema eléctrico superior, que lhes permite iluminar o caminho dos outros enchendo-os de recordações felizes.

Alguns felizmente estão comigo, outros já se foram e estão a olhar por ti (já lhes pedi e eles nunca me negam nada), e a transmitir a sua energia a cada acto médico a que és sujeita. Sei que estão a iluminar as acções de cada enfermeira e cada médica que trata de ti.

Outro desses seres és tu. Sabes tornar as pessoas mais felizes.

Sei que a tua filha já partilha de muitas das tuas características e ela sabe, e saberá sempre, com o que quer que a vida nos traga, a mãe que tem. Por ela, por ti, por todos o que vos querem muito bem esta será mais uma etapa que vão vencer as duas. Venceste todas as batalhas da tua vida, não há razão para não saíres vitoriosa desta.

Jota disse...

Teresa, este teu texto de hoje tocou-me. Deve ser da paternidade...
Bejos
J

Anónimo disse...

Um dia destes um amigo pediu-me que lê-se o primeiro post aqui do blog. Desde então todos os dias quero deixar um comentário, escrever algo para o qual não encontro as palavras. Hoje foi diferente.
Acho que o Jota tem razão...
Apesar de quase nunca nos ver-mos, se precisares de alguma coisa em que possa ajudar estou deste lado.

Beijo
Vanda Curto
(mãe da Maria que nasceu na 6ªfeira 13)

Anónimo disse...

Querida directora, a reacção da tua Joana fez-me ver que ela é uma crescida e muito preocupada com a sua mamã. É uma menina sensível, mas forte. Sai à mãe, que é como deve ser. Beijos muito grandes.

Teresa disse...

Obrigada pelas vossas mensagens. São uma inspiração. Amiga, reconheço-te em qualquer texto que te "esqueças" de assinar... E tens razão numa coisa: faço tudo o que for preciso para te ver feliz. Começa por dormir. Beijos a todos.
T.