Ai que nervos

Começaram a cair uns cabelitos, foi o suficiente para atacar o meu frágil sistema nervoso. De um minuto para o outro abateu-se sobre mim uma gigantesca tristeza que, até este momento, não passou. O que terei eu de fazer para ser como as outras pessoas que não valorizam estas coisas? Sim, eu sei que o cabelo é um pormenor, pois o que interessa é, certamente, dar cabo da doença. Mas quem me conhece sabe como essa exposição pública da doença me atormenta. Não quero a minha filha outra vez preocupada, não quero perguntas dos vizinhos, não quero o olhar mais atento dos colegas... já para não dizer que não quero que tenham pena de mim. Para isso, basta a infinita pena que tenho mim própria, uma terrível sensação de que já iniciei um processo de perda de capacidades que não sei se recupero algum dia. Canso-me brutalmente a trabalhar, não consigo carregar dois ou três sacos das compras do supermercado, concentro-me com dificuldade, não durmo bem, esqueço-me de mil coisas... Enfim, estou uma amostra daquilo que era. E isso deixa-me frustrada.

E agora, o que eu queria: não me queixar, não sofrer, não chorar, acreditar que há um futuro, que vou conseguir ultrapassar o pior disto (já que sei que não posso curar-me), que a minha filha fosse feliz e não tivesse medo de que algo me aconteça (na Isla Mágica começou a chorar quando eu cogitei andar num tal Jaguar, explicando-me ela que os outros podiam ir mas eu não, porque estava doente), que as pessoas não me dissessem que vai correr tudo bem quando, no fundo, sabem que isto é uma roleta russa e que há balas na pistola... e muitas mais coisas. E queria muito ter paciência para ser boa para as outras pessoas que se preocupam e cuja ajuda, na maior parte das vezes, eu não consigo aceitar.

E ainda só perdi para aí uns dez fios de cabelo...

Beijos,
T.