sábado, 12 de setembro de 2009

um casamento e um funeral

Não é o nome de um filme. É tão só o cenário da manhã aqui na igreja da Parede. Mistura-se a alegria e a dor, os que estão vestidos a preceito em cores garridas e aqueles que pegaram, sem interesse, na primeira roupa escura que apanharam à mão. Enfim, um exercício perfeito daquilo que é, na realidade, a vida.

Uma visita matinal ao cemitério de Oeiras, no dia em que faz um mês que morreu o meu avô alerta alguns sentimentos e sentidos. Como a minha avó quis visitar a campa da minha bisavó, a da minha madrinha e a do meu avô, tive tempo e oportunidade para fazer umas rápidas contas de cabeça e perceber que, ali, não moram só pessoas que foram velhas. São imensos aqueles que partem, como se costuma dizer, antes do tempo. E com isto não quero dizer nada mais do que isso mesmo, a evidência de que hoje estamos cá e amanhã logo se vê. E que acontece a muitos.

As flores queimadas pelo sol ou a ausência delas, os nomes que o desgaste do tempo vai fazendo desaparecer das lápides, fizeram-me lembrar uma passagem de um livro que li muito recentemente:

"Estamos todos condenados ao pó e ao esquecimento (...). Sobreviveremos por uns frágeis anos, ainda, depois de mortos, na memória dos outros, mas também essa memória pessoal, a cada instante que passa, está mais perto de desaparecer (...) Como o tempo da recordação vivida é tão curto, se julgarmos sabiamente, "Já somos o esquecimento que seremos", como dizia Borges (...), "Sob o indiferente azul do céu"
Somos o Esquecimento que Seremos
Hector Abad Faciolince

8 comentários:

Anónimo disse...

Olá Teresa, ainda bem que apareceu a TeresaM que te pode ajudar nessas medicações que só mesmo quem passa por essas coisas conhece.
Ontem passei na redacção para te dar um beijinho, mas estavas numa reunião, mandei o beijo pela tua irmã que nos fez companhia à hora do almoço.
Espero que possas aparecer na inauguração do museu para te dar um abraço.
Descansa no fim de semana e Força
para continuares a tua luta.
Beijos
São

Anónimo disse...

A vida como ela é, tal e qual... nunca pensamos nisso, mas quando saímos de casa de manhã podemos nunca mais voltar, e isso é válido para qualquer um de nós... a única coisa que existe é agora, e é agora que tem que ser o melhor da nossa vida, porque é o que temos realmente, ontem já passou e amanhã não sabemos se existe...
De facto amanhã ninguém se vai lembrar de nós, mas agora há muita gente que se lembra, e nós vivemos é agora...
Muitos beijos grandes mana Grande
m

Passa-se tudo AGORA!

Unknown disse...

Teresa
Adorei (como sempre, aliás) esta tua reflexão. Realmente, visitar um cemitério faz-nos mesmo ter este tipo de cogitações. Quem parte fica assim, num formato de memória, rectangular, naqueles bocados de cimento. Assim o exibe a frieza de muitas campas, despidas, sós, tão frias como a morte o é.
Mas...sabes porque me recuso a visitar o cemitério??? Porque não é essa a imagem que quero reter dos que já partiram. Quero-os perto de mim, no meu coração, na minha memória, recordando o nosso dia-a-dia quando cá estavam, comigo, porque me despedi deles dizendo "até já", porque é mesmo um até já. Todos têm a sua partida agendada, algures...nunca nenhures!
Antes do tempo...o mais tarde que for possível mas, não temos esse domínio do tempo, pelo menos desse tempo! Por isso, o Agora,o hoje! estar feliz porque estou aqui, com os que amo, porque a minha vida existe e tem sentido, porque não quero que ela se perca nas angústias do que pode acontecer, ou quando vai acontecer, porque o hoje tem que estar plenamente vivido, saboreando cada momento, apareça ele na forma dum "sumarento pêssego", duma noitada com amigos, dum dia na praia com os filhos e o marido, numa lambidela dos meus cães, num petisco mimado que a minha mãe me fez, num passeio a pé numa noite de Verão com o meu marido, numa gargalhada com uma amiga, num olhar para o espelho e achar que tenho menos uma ruga, numa ida à bica matinal sem o "peso" de mais nada do que me perder na leitura dum jornal...
E é nesses momentos todos, tão singelos e deliciosos que me faço acompanhar das minhas memórias, dos que já partiram. A minha vida é óptima, foi partilhada por muitos a quem muito amo, que já não estão cá, mas estiveram comigo em momentos assim: Vivos! Como estou agora: Viva!! Eu só recordo os vivos, nunca os mortos!
Fica bem, faz favor!!!

ana disse...

Também estou numa altura da vida em que a morte está muito presente. Os avós e os tios foram-se todos num ápice, no espaço de poucos meses. Mas o que me fez reflectir ainda mais nessas mesmas coisas que exprimes tão bem foi o facto de, no dia 1 de Agosto, quase ter perdido de uma assentada o meu marido e os meus filhos. Tê-los agora comigo é algo que todos os dias agradeço, e fez-me repensar uma quantidade de coisas na minha vida. Tu, Teresa, tens um lembrete permanente da tua mortalidade na forma desse bicho, mas isso não te torna mais ou menos mortal do que qualquer pessoa com quem te cruzes na rua. É verdade que todos seremos 'pó, cinza e nada'; o que conseguirmos fazer desta breve passagem pelo mundo é a única coisa que importa. Um grande abraço solidário, como sempre.

Teresa disse...

Teresa, manter o pensamento positivo dessa forma é, de facto, notável. Eu levo a minha vida adiante, não deixo de fazer nada, nem sequer deixei de trabalhar, mas dentro da minha cabeça nem sempre as coisas são tão cheias de luz. Não sinto que esteja "em baixo" ou deprimida, mas apenas consciente de que tudo pode acontecer.
Beijos,
T.

Teresa disse...

Ana, que susto esse, rapariga. Até me deixaste sem fôlego. Mais uma para marcar o Agosto como o mês mais estúpido do ano. Mas felizmente está tudo bem e tens os teus bem apertadinhos nas tuas asas. Um beijinho muito grande.
T.

beatriz disse...

OLá Teresa,
Mais uma vez os teus textos são bonitos. Embora desta vez não consiga concordar com o excerto plenamente.
Nunca se esquecem as pessoas que amamos! passem os anos que passarem os momentos vividos são sempre presente e nunca uma tenue lembrança!
O meu Pai é e será sempre hoje, a minha avó ( já lá vão 20 anos) também!
as lembranças, amor, saudades não atenuam... aprendemos é a viver mais calmamente com elas, ou sem elas...
Passaram quase 5 meses e não há um dia em que não pense várias vezes no meu Pai, podem dizer que ainda está fresco.. está! muito fresco mesmo... o meu amor e saudade
Bem vou para dentro que isto não são conversas para uma 2ª feira :)
beijos grandes

Unknown disse...

Também eu estou consciente do que pode acontecer. Não tenhas dúvidas disso...Mas recuso-me a pensar nisso.Como já te disse, da segunda vez que adoeci, fui abaixo. E não foi figura de retórica dizer que um dia sacudi a cabeça e me disse: "não pode ser! a única coisa boa que tenho pela frente, são os tratamentos! Eles existem para me ajudar!" Eu, conscientemente, bloqueio os pensamentos negativos e em tudo o que de mau me acontece, encontro o que há de positivo: há sempre algo...
Ainda tenho forças para isso.
Mas não sou corajosa...não sou não!
Não sendo optimista, recuso é ser pessimista e muito menos por antecipação.
Como a tua amiga dizia, temos um "lembrete" por causa das ranhosas das ditas células e..o que me vale...é que estou a ouvir cada vez pior...hehehehh
Um grande beijinho
P.S (Ana....acho que não tenho palavras para expressar a angústia do que poderia ter sido! Um abraço)