sábado, 19 de novembro de 2011

Iguais mais ou menos

Relembro um episódio de quando estava grávida. Em pleno verão, numa estação de serviço, corri para a casa de banho mas dei com uma fila de espera enorme. A barriga não era ainda muito visível e, pensava eu que fosse por isso, ninguém me ofereceu primazia. Afinal, não deve ter sido essa a razão, pois até ao final da gravidez poucas vezes alguém se prestou a esperar mais um pouco, fosse onde fosse, dos wc públicos aos supermercados. Pouco me ralei. Eu, que ofereço passagem a todas as grávidas, sempre dei lugar nos transportes públicos, compro pensos rápidos aos miúdos e a Cais nos semáforos (às vezes mais do que uma vez por mês), doo todas as roupas, livros e brinquedos a quem mais precisa, e etc e tal - conto isto para deixar claro o meu elevado grau de gratidão pelo que tenho e a minha necessidade de retribuir o mais que possa - nunca utilizei esta desgraça que é o cancro na minha vida para obter rigorosamente nada a mais em meu proveito. (Minto. Um dia, em que mal me aguentava em pé e estava sozinha, tirei uma senha de atendimento prioritário nas análises na Quadrantes. Uma vez em mil. E tantas vezes tive razões para o fazer...)

Isto para dizer que me ofende imenso ver pessoas a passarem claramente os limites da sã convivência entre pares, invocando como justificação a doença e os seus efeitos perversos em nós. Sim, é claro que tanto o cancro como os tratamentos deixam marcas, físicas e psicológicas, é verdade. Sim, há que haver maior condescendência e tolerância para com quem tem menos forças em determinados momentos. Mas não vejo razão para que se aceite agressividade e má educação de forma reiterada porque, coitada, está a sofrer muito. Apesar do sofrimento que a doença causa ser muito compreensível, ainda mais para quem passa pelo mesmo, há que saber separar o trigo do joio e compreender que as pessoas são diferentes: como em tudo nesta vida, há sempre os bons e os menos bons, e também deve haver maus (apesar de eu ainda não ter conhecido nenhum...); e também como em tudo na vida, somos todos iguais, mais ou menos...

T.

P.S. Um dia fui multada às três da manhã, e estive meia hora em pé ao frio (de rachar), com uma vontade enorme de arrancar a peruca da cabeça e fazer aquela gente toda esconder-se de vergonha pelo que estavam a fazer a uma pobre mulher que tinha tido um terrível dia de trabalho, que estava a cinquenta metros de casa (não me deixaram ir buscar o papel do seguro que estava em cima da mesa da sala) e que apenas não tinha consigo uma porcaria de um papelito sem importância nenhuma :-))

6 comentários:

Anónimo disse...

Pois é mana, infelizmente a educação não se compra... e há pessoas que não conseguem fazer melhor, porque simplesmente não se esforçam... também há aquelas que usam as crianças para passar à frente nas filas, que estacionam os carros nos locais de grávidas e deficientes... as pessoas começam por não se tratar bem a elas próprias, e aos os outros então... sim é verdade, somos todos iguais mais ou menos...
beijos mana, posso te dizer que tu sem dúvida, e agradeço, estás no mais!!

Lina Querubim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lina Querubim disse...

Também passei por algumas situações idênticas enquanto fiz a radioterapia...a quimio não, porque fui sempre com o Kim de carro.
A educação e solidariedade não fazem parte do pacote para muita gente!
Beijokas

Maguie Barreira disse...

Beijinhos TP
LY*****
..

angelina disse...

BOM dia Teresa
beijinhos grandes

IsaLenca disse...

Lá diz o ditado "Todos somos iguais mas há uns mais iguais que outros"...e aí é que está o busilis...

Bjs