sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A sitcom do dia

O exame custa mais de 2500 euros, é o que sei, mais 1000 euros do que em Espanha, de onde vem o material radioactivo que injectam aos pacientes. Paciente foi, aliás, o que eu tive de ser esta manhã até ver terminada a minha odisseia para fazer um PET-TC.

Começou com o trânsito. A malta sai de casa às sete da manhã, e já vai cheia de pressa e nervos, mas são coisas que as pessoas como eu (que só acordam às 7:45 h) não sabem, até ao dia em que chove a potes e nos convocam para estar às oito da manhã em qualquer lado (que não seja até Oeiras, o limite da minha zona de conforto...).

O resto, após a "admissão", é material cómico, não sei se vou conseguir contar com a graça que requer. Vou tentar...

Ouço chamar o meu nome, levanto-me, dou os bons dias ao auxiliar, um homem jovem, alto, vestido de amarelo. Ele retribui, pede-me para segui-lo. Abre uma primeira porta e... pimba, entra à minha frente. Abre uma segunda, e volta a ser o primeiro a entrar, desta vez tão rapidamente que quase levei com a porta na cara. Mas não desconfiei... Já tinha feito um PET num hospital em Madrid, sabia que não tinha por onde correr mal...

- Entre nessa porta, diz ele, e segue caminho. Olhei, era uma casa de banho. Pensei que se tinha enganado, fiquei parada no corredor. Ele voltou, com uma bata, que deixou... em cima do lavatório!
- Dispa tudo e fique só de cuecas e meias.
Ainda estava em transe, e já algo pasmada, mas fui-me deixando ir... Vesti a bata, e fiquei de botas (ele não me deu chinelos, devia ser para ficar descalça...)

Passei às picas e interrogatórios. Tudo bem, já estou habituada. Sabia que a seguir teria de ficar entre uma a duas horas isolada numa sala. Tentei levar um livro, não me deixaram, tinha de ter "o cérebro em repouso". Como não me conhecem e não sabem que isso é impossível, expliquei que comigo só acontece se me deixarem ler. Não valeu de nada. Aceitei, que remédio, e pensei que então, iria tentar dormir...

Ah ah ah
Essa do cérebro em repouso era uma graça.
Levaram-me para uma sala, em que, em vez da minha desejada cadeira de repouso (como era em Madrid) estavam... quatro cadeiras de repouso. As outras já ocupadas (a que horas chegaram aquelas pessoas?).
Calhou-me em sorte que os companheiros de bunker tivessem já uma certa idade e que estivessem todos constipados (para dizer o mínimo e não fazer brincadeiras com tuberculoses e outras coisas sérias) e tossissem com elevados níveis de ruído e alguns fluídos indesejados. Também espirravam imenso. E uma das senhoras pensava que ia fazer um TAC e estava a estranhar tudo aquilo... Também eu.

Por cima de tudo isto, como se fosse preciso mais alguma coisa, as pessoas que tanto zelaram pela tal ideia do "cérebro em repouso" abriam a porta de cinco em cinco minutos para pôr contraste, tirar cateter, dar água, sentar outra pessoa no local deixado vago trinta segundos antes e assim por diante durante quase duas horas. Meu rico livro, o que me teria ajudado a abstrair-me daquele local medonho. Ainda voltei à conversa, mas levei nova nega com a explicação, desta vez de uma patente mais elevada, que "vocês têm de ficar aqui de luz apagada". Mau, mau. A qualquer momento podiam trancar a porta, que era blindada, e abrir o gás...

Quando comecei a ficar com frio, estava com tanto medo do cobertor que me disponibilizaram que dei por mim a perguntar se estava limpo. Ofendi, percebi logo... mas disseram que sim, claro que estava, que raio de pergunta. Esta deve ter a mania...
Depois dos copos de água, o rapaz de amarelo mandava "despejar totalmente a bexiga", na mesma casa de banho que servia de vestiário. Duas horas depois, aquilo já tinha uma poça de chichi à volta da sanita e um cheirinho de bradar aos céus (o chichi radioactivo é tramado).
Passei mais essa prova de fogo e segui para a máquina, de onde ainda vi levantar-se o tal senhor que escarrava, que eu tinha pedido a Deus que já estivesse em casa e que eu não tivesse que voltar a ouvi-lo. Mas não fui atendida... Foi, aliás, um prazer deitar-me onde ainda se fazia sentir o calorzinho dele.
Depois, foi voltar a vestir-me na espelunca...
Depois ainda, foi esperar mais meia hora por que me dissessem que podia ir-me embora e tentar esquecer tudo o que tinha acabado de acontecer.  E eu assim fiz. Mas ainda não consegui apagar tudo da minha memória... talvez amanhã, vamos lá ver.

T.

Só mais uma coisinha. Às tantas, perdi o medo ao cobertor e tapei a cabeça com ele para não cegar cada vez que a porta abria. O cavalheiro de amarelo, quando me queria abordar para os procedimentos acima descritos, sabem o que fazia? Adivinhem lá... Cu-cu! Pois, claro, arrancava-me o cobertor da cabeça. Prontos!

Só mais outra coisinha: eles não podem ler isto, que fizeram-me o favor de me dar o resultado na segunda-feira... (Ingrata!)







9 comentários:

Natália Fera disse...

Mas onde é que tu foste fazer a PET ?
Eu fiz no IPO e não passei por nada disto,fui bem atendida,tudo muito asseado e no fim ainda me deram um cházinho quente.

E fizeram o favor de me dar a PET no mesmo dia...esperei umas 3 horas no jardim do IPO,mas trouxe-a comigo.

Beijinhos

Lina Querubim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Teresa disse...

Olha que sorte a tua!
Beijos, Nat

Lina Querubim disse...

:p uma odisseia iihihihihih é público??? Eu tb fiz exames no IPO e correu tudo bem!
Beijokas

Anónimo disse...

wow, entre as expressoes idiomaticas e a sugestao que seu cerebro precisava repouso, tive que rir. Louvavel senso de humor, sem ele a vida seria impossivel. te abraco, ml

Anónimo disse...

Pelo menos saíste da lá com uma boa história para contar... e o melhor é mesmo conseguir ter algum humor no meio de tudo isto, e o senhor sempre estava de amarelo, uma cor altamente positiva... ;))
Muitos beijos mana, estou a torcer por ti, e a pedir a todos, mas mesmo todos, os santos e não não só que iluminem o teu caminho!
Milhões de beijo mana, até amanhã!

Guida Palhota disse...

É um prazer ler-te, TP. E, como não posso "falar-te", tento, pela via escrita, que acredites nos bons momentos que me tens proporcionado, quando aqui venho, pois percebo a força que mora em ti, para ganhares ao malvado do bicho...

*___*

beatriz disse...

Só tu Teresa para fazer humor com uma coisa destas! és única minha querida!
gosto de ti beijos :)

Mjp disse...

Desculpa a minha ignorãncia, mas esse exame é o mesmo que Cintigrafia?