quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Foi há um ano

Há um ano, doíam-me muito as costas, estava gorda que nem um peru (achava que esse é que era o problema) e, apesar de sucessivos exames médicos, e médicos propriamente ditos, também não sabia porque razão a minha mão estava tão inchada. Hoje, doem-me (muito) menos as costas, estou ainda mais gorda (e continua a ser um grande problema), não tenho cabelo (outro) e já conheço a razão da existência do meu chispezinho de estimação (mais um e dos grandes).

Faz portanto um ano que o céu me caiu em cima da cabeça. Mas não me levou, como acontece a tantas outras pessoas, algumas que até só estavam de férias na praia...

Se, passado um ano muito doloroso, há razões para celebrar ou chorar, sinceramente não sei. Dirão vocês que a vida é sempre para ser celebrada, é verdade, mas os desgostos também fazem parte, e magoam. E o que dói pode ser chorado... ou não?

O que sei é que estou cá, e isso é inquestionavelmente bom, mas o dia não é um bom dia e só mesmo o aniversário da mais pequenita da família o pode animar. Isto porque, um ano depois, sair de casa é tarefa difícil. A peruca faz calor, o calor cansa, o sol queima, a roupa não me serve, as borbulhas multiplicam-se, não vejo como poderia sentir-me pior, psicologicamente falando. Não consigo ir ao ginásio, não consigo ir andar, não me mexo portanto, engordo portanto, que nem franguinho em gaiola de aviário.

Pronto, a disposição não é a melhor, mas passa. Nem que seja para pior, que para a semana há mais... quimioterapia. É o início do segundo ano da batalha, a que só se pede que, se não puder ser melhor, que seja afinal tão mau como este que passou.

Beijos,
T.

10 comentários:

TeresaM disse...

Faz hoje um ano que a tua vida sofreu um embate. Saber que temos cancro é devastador, mas saber que ele pode converter-se, apenas, uma doença crónica, dá-nos poder nuclear contra ele! A última quimio foi particularmente dolorosa, porque tiveste, algures, uma infecção. A próxima não precisa nem tem de o ser, porque não vais ter nenhuma infecção! Mas sem ela..vai-se a lavagem das porcarias que tens que mandar pr'o galheiro! Teresa, sei como o calor, o sol, a peruca e o peso se tornam inimigos terríveis na nossa cabeça. É assim: logo que termines os ciclos, o peso volta a diminuir, pois tens muito mais peso devido ao tratamento do que ao "descanso". Ficamos inchadas, desinchamos quando a quimio termina. E ela vai acabar, apenas fizeste mais uns tratamentos para controlar e solidificar o processo da cura. Tenho uma amiga que fez 10 seguidinhos e agora anda feita flausina, como se nada tivesse acontecido. A peruca, bem, sei a sensação de libertação que temos quando a tiramos. Também a vais ter, tens apenas que contar que são só mais uns tratamentos, mais uns para dar cabo dos bichos. O sol e o calor, estão nos finalmente, sabes, o Verão vai acabar e segue-se aquele período mais fresquinho...chamado Outono!
E viva o próximo tratamento, pois é o passo certo, no caminho certo, o da cura, mesmo que esta não seja definitiva mas, até lá (à cura definitiva), há sempre novas drogas a aparecerem, melhores porque mais selectivas e menos desencadeadoras dos temidos efeitos colaterais. Logo, a quimio é mesmo uma torrente de água pura e cristalina que na sua força demolidora arrasta para fora a sujidade! Melhora essa cabecinha que ela só tá menos cabeluda pois os neurónios de enorme qualidade que tens, estão lá dentro para te ajudar! Tudo vai passar, este mau momento vai ser passado! Engata lá a primeira na direcção da quimio!
TeresaM

ninia disse...

Sábias palavras TeresaM.
O desafio é continuar a lutar e transformar o cancro numa doença crónica.
Mas falando doutras coisas, como está a ser a festas com tantas manas em casa?

Madalena disse...

Teresa, não é fácil e dói, como tu dizes e bem. Mas o pior vai passar e vais voltar a sentir que és a mesma Teresa de antes do "bicho". Mil beijinhos.
TeresaM, boas energias que fazes passar. Obrigada também por mim!

Filipa disse...

Grandes palavras TeresaM!
É isso mesmo!
E sabes uma coisa? Apesar do interruptor tantas vezes estar em baixo e a luz por vezes fingir que murcha, acho que nunca te vi tão cheia de força e rir tanto! Passou um ano e cá estamos, juntos! Sempre!
Beijinhos e boas ondas!

Anónimo disse...

TeresaM grandes e boas palavras para a minha prima Teresa.
Mais uma batalha para a semana, espero que não passes muito mal e o que dói pode ser chorado sim. Chorar também ajuda a libertar a tristeza. Fica-se mais aliviada, pelo menos comigo é assim.
Força para a quimio, sei que é difícil mas pensamentos positivos.

Estou a torcer por ti
Beijos
São

Unknown disse...

só mais uma coisinha: escreves que as costas já não doem tanto!!
Teresa...alguma coisa boa está a acontecer: estás a dar cabo dos ditos!
Boa!
Bjinhos

beatriz disse...

Obrigada Teresa M, por tanta energia positiva! até eu a recebi!
Quanto ao choro... CHORA MUITO, tens todo o direito, todas e todos temos o direito e o dever de chorar pelo que nos magoa , fracos são os que não sabem chorar ou não querem chorar!
´Há é momentos em que a "torneira" teima em não abrir... e ai as coisas ainda são mais dolorosas...
Um beijo muito grande

Anónimo disse...

Querida mana, tens toda a razão, mas a única coisa que podemos fazer é continuar esta luta...
Tenho pensado nesta data durante a semana, e de facto tinhas toda a razão devia ter-te levado uma prenda, por tudo o que és, sempre, e por tudo o que passaste neste último ano e sempre com tanta força e coragem, fica prometida!
Se quiseres posso começar a ir andar contigo de manhã, é só dizeres a hora e quando queres começar, além de te aliviar o peso, vai aliviar-te e muito a cabeça, acredita!
Ouve as palavras da Teresa, de facto ela tem razão, estás no bom caminho de matar esses desgraçados...
Amo-te muito e estou sempre aqui, sei que não gostas que diga isto, mas eu sei que tu vais vencer...
Beijos enormes de grandes mana Grande
m

pensa nisso dos passeios, eu não falo... ;)

Anónimo disse...

Um escritor, não me recordo agora qual, disse que se a determinado homem se propusesse uma vida apenas de felicidade, ele, se fosse inteligente, a recusaria. Porque não existe vida sem diversidade de emoções e devemos exigi-las - todas. Se um ente querido nos deixa, nós não quereríamos, na hora do seu adeus, flutuar na praia da felicidade, queremos é chorar por ele. O problema, verdadeiro, está no equilíbrio dessas emoções. O lá de cima preocupa-se pouco com a justa repartição de prémios e castigos, embora seja cedo para fazeres o teu balanço. Há ainda muita estrada para percorrer. Beijo. A.

Maguie Barreira disse...

Eu entendo como te sentes tambem eu tive momentos assim, as quimios foram sempre dolorosas,mas depois de uns dias em baixo, ressuscitava a minha força e a coragem pra enfrentar tudo o que viesse a seguir, eu terminei os ciclos da quimio á 4 semanas, segunda feira inicio a radio que é muito mais leve, mas de vez e quando ainda dou comigo a pensar e a questionar-me o porque de isto me acontecer, porque eu não mereço ninguem merece, mas a vida traz-nos destas surpresa e por isso temos de aprender lidar com tudo isto, eu sei todas sabemos que mesmo depois dos tratamentos o perigo nunca passa, estamos marcadas para o resto das nossas vidas, por isso minha amiga vamos vivê-la da melhor maneira possivel, sempre tendo em mente que cada etapa nós conseguimos vencer, com altos e baixos mas sempre vencedoras.
que Deus ilmine o teu caminho, o nosso e o de tantas outras mulheres que lutam contra o maldito que entrou no nosso corpo sem pedir licença, mas nós somos fortes e vamos vencer.....

beijinhos

maguie
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