quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Os nossos mortos

Até aos 40 anos estive arredada da morte. Ninguém tinha morrido na família - há excepção de bisavós, já muito velhinhos que ainda vi partir - e não tinha perdido amigos prematuramente. Nem sequer pensava que isso fosse acontecer a nenhum de nós, dos meus.
Depois, com a chegada do cancro, chegou-me a morte à vida.  Passei a senti-la, a pressenti-la, a receá-la. E a vê-la. Os meus, que eram pouco, tornaram-se muitos, passaram a ser todos aqueles que, como eu, tiveram de enfrentar um dos mais poderosos inimigos que se pode ter. Alguns vão perdendo essa guerra. E nós estamos cá, a ver tudo, a interiorizar tudo, a temer destino igual.
Hoje foi o António, antes tinha sido o Tiago, o outro António, o amigo desta, o primo daquele, o pai de alguém, o filho do Paulo, ainda tão pequenino...

Os nossos mortos agora são muitos. E mesmo sem saber rezar, sinto por todos e espero que tenham chegado bem.

Sou um, mas sou muita gente... (como diz uma música de Pedro Abrunhosa)

T.

4 comentários:

Guida Palhota disse...

Querida Teresa, provavelmente eu ainda não tinha consciencializado o que te vou dizer e foi este teu texto que mo ajudou a fazer: em nenhum dos dias da minha doença que me levou uma mama e me obrigou a tratamentos agressivos que deixaram e continuam a deixar marcas físicas e psicológicas, em nenhum destes dias me ocorreu que podia morrer deste mal e que estou a lutar contra a morte. Talvez eu ande, até um bocadinho irresponsavelmente, demasiado descontraída relativamente à alimentação e ao exercício físico. Centrei-me na dor física que me ficou de recordação e, como não a aceito, esqueço-me de agradecer o facto de me terem acudido a tempo de me darem tempo... de vida. Obrigada pelas tuas palavras, que fizeram tilintar as campainhas do meu cérebro. Beijinhos

Susana Neves disse...

Olá Teresinha,

já tinha saudades tuas. Hoje, na viagem, lembrei-me de ti e quando cheguei tive a agradável surpresa de ver o teu comentário e post.

Dói muito, mas a verdade é que a morte faz parte da vida. A única coisa que podemos fazer é tentar não desperdiçar tempo e acarinhar, ao máximo, aqueles que sofrem.

Beijinhos

Anónimo disse...

Querida Teresa
A morte é uma senhora com quem todos marcámos reunião para uma hora, de um qualquer dia, algures no tempo. A indeterminação deste momento, só se torna mais real quando somos confrontadas com a partida dos que amamos. Por isso deixamos de viver? Não...sabemos que um dia a teremos à espera, todos, mesmo todos, sem excepção. Quando nascemos começamos logo a morrer..mas no entretanto, vamos saboreando o que de bom tem a Vida: O amor, a amizade e a solidariedade. Vive, apenas isso!
O cancro não é sinónimo de morte mas de compromisso com a Vida (já o escrevi e adoro esta máxima...logo, vou repetir estas palavras até à exaustão...)
Um grande abraço, cheio de ternura.
TM

Lina Querubim disse...

Eu sobre a morte não escrevo nada! :0( *

Beijinhos Tpona