Até aos 40 anos estive arredada da morte. Ninguém tinha morrido na família - há excepção de bisavós, já muito velhinhos que ainda vi partir - e não tinha perdido amigos prematuramente. Nem sequer pensava que isso fosse acontecer a nenhum de nós, dos meus.
Depois, com a chegada do cancro, chegou-me a morte à vida. Passei a senti-la, a pressenti-la, a receá-la. E a vê-la. Os meus, que eram pouco, tornaram-se muitos, passaram a ser todos aqueles que, como eu, tiveram de enfrentar um dos mais poderosos inimigos que se pode ter. Alguns vão perdendo essa guerra. E nós estamos cá, a ver tudo, a interiorizar tudo, a temer destino igual.
Hoje foi o António, antes tinha sido o Tiago, o outro António, o amigo desta, o primo daquele, o pai de alguém, o filho do Paulo, ainda tão pequenino...
Os nossos mortos agora são muitos. E mesmo sem saber rezar, sinto por todos e espero que tenham chegado bem.
Sou um, mas sou muita gente... (como diz uma música de Pedro Abrunhosa)
T.
4 comentários:
Querida Teresa, provavelmente eu ainda não tinha consciencializado o que te vou dizer e foi este teu texto que mo ajudou a fazer: em nenhum dos dias da minha doença que me levou uma mama e me obrigou a tratamentos agressivos que deixaram e continuam a deixar marcas físicas e psicológicas, em nenhum destes dias me ocorreu que podia morrer deste mal e que estou a lutar contra a morte. Talvez eu ande, até um bocadinho irresponsavelmente, demasiado descontraída relativamente à alimentação e ao exercício físico. Centrei-me na dor física que me ficou de recordação e, como não a aceito, esqueço-me de agradecer o facto de me terem acudido a tempo de me darem tempo... de vida. Obrigada pelas tuas palavras, que fizeram tilintar as campainhas do meu cérebro. Beijinhos
Olá Teresinha,
já tinha saudades tuas. Hoje, na viagem, lembrei-me de ti e quando cheguei tive a agradável surpresa de ver o teu comentário e post.
Dói muito, mas a verdade é que a morte faz parte da vida. A única coisa que podemos fazer é tentar não desperdiçar tempo e acarinhar, ao máximo, aqueles que sofrem.
Beijinhos
Querida Teresa
A morte é uma senhora com quem todos marcámos reunião para uma hora, de um qualquer dia, algures no tempo. A indeterminação deste momento, só se torna mais real quando somos confrontadas com a partida dos que amamos. Por isso deixamos de viver? Não...sabemos que um dia a teremos à espera, todos, mesmo todos, sem excepção. Quando nascemos começamos logo a morrer..mas no entretanto, vamos saboreando o que de bom tem a Vida: O amor, a amizade e a solidariedade. Vive, apenas isso!
O cancro não é sinónimo de morte mas de compromisso com a Vida (já o escrevi e adoro esta máxima...logo, vou repetir estas palavras até à exaustão...)
Um grande abraço, cheio de ternura.
TM
Eu sobre a morte não escrevo nada! :0( *
Beijinhos Tpona
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